O IBGE revelou um retrato detalhado sobre condições urbanas
brasileiras e houve um item que chamou, a meu ver erroneamente, de “calçadas
para cadeirantes”.
Bem, o termo não ajuda em nada na inclusão.
Talvez, para fins de pesquisas, era preciso ser bem específico, mas rampa é um
aparelho urbano que serve a todos, não só a cadeirantes.
A rampa facilita o acesso do carrinho de bebê,
auxilia os mais velhos e mais desequilibradinho na travessia, facilita para
quem está puxando carrinhos de compras, evita com que crianças tropecem ao
atravessar a rua. Então, como uma rampa é para “cadeirantes”?
Quando se qualifica uma rampa dessa maneira, a
meu ver, reforça-se em parte da sociedade que o povo “malacabado” é um peso na
lomba do poder público que precisa gastar para fazer o mundo mais fácil para
“nóistudo” podermos ser mais cidadãos.
Não é a primeira vez que o órgão de pesquisa mais
importante do país comete uma impropriedade com as pessoas com deficiência. É
hora dessa gente ter mais preocupação com seus métodos de abordagem, pois a
reprodução das informações é gigantesca e os dados ficam para a história, né,
não?
Bem, agora o mérito da pesquisa, mais
propriamente. O resultado é que apenas 4,7%, repito SOMENTE 4,7% das ruas do
país possuem rampas.
Gente, isso é praticamente uma miséria humana em
relação à inclusão. Quer dizer que 95% dos passeios dessa nação não têm mínimas
condições de garantir um ir e vir seguro às pessoas. É a massacrante maioria de
um país que não cumpre um princípio constitucional.
A ausência de uma rampa humilha as pessoas. Expõe
as pessoas ao risco de quedas, de acidentes. Impede as pessoas a chegarem na
escola, no hospital, na casa da namorada.
Pelo levantamento, a cidade de Porto Alegre, no
Rio Grande do Sul, entre as com mais de 1 milhão de habitantes, é a que está
mais avançada em relação a esse aparelho urbano. Fortaleza, vergonhosamente, é
a pior.
Conheço as duas capitais. Realmente, em Poa, se
vê um esforço importante para tornar a cidade mais amigável no seu ir e vir
para TODOS, mas não se compara minimamente, infelizmente, às cidades européias
ou mesmo americanas. Se estamos nos tornando um país rico, esse relaxo tinha de
ser uma preocupação primordial.
Fortaleza, como uma cidade turística e que vai
ser sede da fatídica Copa, era preciso que a administração municipal sentisse
dor de cabeça durante uns seis meses e que tomassem uma atitude corajosa para
reverter uma situação tão deplorável…
Como sabem, sou um tiozão otimista. Acho, de
verdade, que essa realidade está mudando em velocidade importante.
Mas isso vai continuar caso a gente siga
mobilizado, siga escolhendo administradores engajados, siga exigindo
cumprimento de leis, siga enfrentando, a medida do possível, a rua, do jeito
que ela é, até que a pressão a torne do jeito que precisa ser: útil, segura e
acessível para todos.
Fonte: Jairo Marques